quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Preconceito Linguístico

O Poeta da Roça
*Patativa do Assaré


Sou fio das mata, canto da mão grossa,
Trabáio na roça, de inverno e de estio.
A minha chupana é tapada de barro,
Só fumo cigarro de paia de mío.

Sou poeta das brenha, não faço o papé
De argun menestré, ou errante cantô
Que veve vagando, com sua viola,
Cantando, pachola, á percura de amô.
Não tenho sabença, pois nunca estudei,

Apenas eu sei o meu nome assiná.
Meu pai, coitadinho! Vivia sem cobre,
E o fio do pobre não pode estudá.

Meu verso rasteiro, singelo e sem graça,
Não entra na praça, no rico salão,
Meu verso só entra no campo e na roça
Nas pobre aioça, da serra ao sertão.
(...)

*Patativa do Assaré era analfabeto ( sua filha é quem escrevia o que ele ditava), mas sua obra atravessou o oceano e se tornou conhecida mesmo na Europa.

O poema de Patativa nos mostra como é tamanho o preconceito linguístico em relação as pessoas de menor prestígio social. Pois infelizmente no mundo hoje quem não consegue se adaptar ás normas e regras existentes em nossa língua, sofrerá o preconceito linguístico. 
Infelizmente todo preconceito que há em relação a maneira de falar das pessoas, pode nascer  até mesmo dentro  da sala de aula, ainda no ensino fundamental. Isso porque a  pedagogia da língua que prevalece na escola é justamente a de que só existe uma língua correta, ou seja, a língua portuguesa deve ser pura, estigmatizando assim os falantes do português não-padrão.
A linguagem não-padrão é estigmatizada simplismente pelo fato de a padrão ser utilizada pela elite, pela classe social de maior prestígio, excluindo assim os falantes da língua não-padrão. Quem mais sofre com tamanho preconceito são os alunos em sala, pois, os colegas que fazem parte dessa classe social mais prestígiada acabam discriminando-os. As vezes causando tanto constrangimento que alguns se sentem humilhados e desmotivados a prosseguirem seus estudos.  O mesmo pode acontecer com pessoas que por falta de oportunidade ou motivação não possuem um nível de escolaridade mais avançado, encontrando assim dificuldade na utilização da língua padrão ditada pelos gramáticos como a língua correta. Mas isso não significa que a pessoa não tenha sabedoria. Na grande maioria das vezes essas pessoas, tão julgadas pelo modo de falar são mais sábias que muitos ditadores da fala correta.